segunda-feira, 18 de maio de 2009

Fela Kuti (Nigéria) - Koola Lobitos/ The '69 L. A. Sessions - 2001 (em CD)



Abrindo uma série de postagens sobre discos africanos, trago ninguém mais ninguém menos que o lendário músico e ativista político Fela Kuti, um dos grandes nomes do século passado. Além da posição destacada do músico no cenário cultural e político de seu país e do mundo, o motivo de iniciar com ele é que seu país, a Nigéria, tem íntimos laços com o Brasil, pois foi de lá que vieram nossos ancestrais iorubás, que tanto influíram na cultura brasileira. O reino soberano dos Iorubá foi o primeiro a reconhecer a Independência do Brasil, antes mesmo da Inglaterra. Além disso, um fato curioso é que Fela nasceu em Abeokuta, no estado de Ogun, mesma cidade de onde veio a família de Maria Júlia da Conceição Nazaré, que fundaria o Terreiro do Gantois, famoso pela Mãe Menininha e por ser a "segunda casa" de grandes nomes como Caetano Veloso, Maria Bethania e Dorival Caymmi.
Veja mais a respeito dos iorubás aqui:
(ao final, a página ainda sugere alguns links)
Não vou aqui contar toda a história desse personagem tão polêmico que é Fela Anikulapo Kuti, pois a postagem se tornaria grande demais. Basta dizer, primeiramente, que sua mãe, feminista, foi a primeira mulher nigeriana a dirigir um automóvel, e seu pai, reverendo, foi o primeiro presidente da União Nigeriana de Professores. Fela, por sua vez, tendo se politizado durante seu contato com o movimento Black Power e os Panteras Negras, tornou-se um artista bastante subversivo em seu país, criando inclusive uma comuna, a República Kalakuta, independente do Estado da Nigéria! Seu antigo nome do meio, "Ransome", ele o substituiu por "Anikulapo" alegando que o primeiro era um nome de escravo.A vida de Fela seguiu sempre bastante atribulada, devido a suas posições nunca conformistas, até que em 1997 morreu de AIDS.
Fela é o pioneiro do estilo que seria chamado "Afrobeat", que misturava elementos de Afro Jazz, da Highlife, entre outros estilos.
O disco que apresento (infelizmente, não consegui uma imagem maior da capa) foi lançado em 2001, na França, trazendo algumas faixas do seu 1º LP "Fela Ransome Kuti and His Koola Lobitos" de 1965 (as faixas indicadas como sendo de 68, "Highlife Time" e "Wayo" tiveram a datação errada), algumas delas com títulos alterados. Mais informações sobre toda a discografia de Fela, você encontra aqui:
Pra quem conhece a obra posterior de Fela, as seis músicas de que falei podem soar estranhas, mas quem vier a conhecer agora, talvez estranhe, sim, a mudança que haveria no seu som. Note que a faixa "Lover" é uma versão um poco diferente de "Ololufe Mi" e que a segunda "Wayo" não tem nada a ver com a primeira. Destaco nesse disco as faixas "Highlife
Time", "Ololufe Mi", "Laise Lairo", "Wayo" (a primeira), "My Lady Frustration", "Ako" e "Lover" (as duas versões são ótimas! mas percebe-se que prefiro as faixas no estilo inicial de Kuti!).
As faixas do disco são as seguintes:
01-Highlife Time - 1968 (sic)
02-Omuti Tide - 1964
03-Ololufe Mi - 1964
04-Wadele Wa Rohin - 1965
05-Laise Lairo - 1964
06-Wayo - 1968 (sic)
07-My Lady Frustration
8-Viva Nigeria
09-Obe
10-Ako
11-Witchcraft
12-Wayo
13-Lover
14-Funky Horn
15-Eko
16-This Is Sad
O legado de Fela Kuti não se resume, no entanto, à grande e importante discografia que nos deixou, mas também é preciso salientar o seu legado familiar. Dois importantes músicos nigerianos da atualidade são seus filhos: Femi Kuti (mais velho) e Seun Kuti (mais novo).
Deixo também registrado, aqui nesta postagem, meu desejo de que seja encontrada uma saída aos problemas que o país de Kuti enfrenta, com um território dividido entre diferentes povos - de costumes, línguas e histórias distintos -, em estado de difícil controle, devido à arbitrária divisão de terras feita pelos colonizadores e a dificuldade de estabelecer novas fronteiras, além dos interesses nada bem intencionados sobre os recursos minerais do país.
Que a música de Fela Kuti nos inspire a conhecer melhor a realidade desse país que é nosso parente próximo e ao qual não costumamos dar nenhuma atenção. E que a vida de Fela nos instigue a sermos guerreiros e não nos acovardarmos ante a realidade que fere os princípios básicos em que acreditamos.
Axé, meus irmãos.

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